Entrevista com Andres Bicocca da Argentina

Estou começando uma série de entrevistas internacionais, como o bonsaísta da Argentina Andres Bicocca. Seus trabalhos com Olea são esculturas vivas;  acho essa espécie uma das mais bonitas para o cultivo de bonsai no mundo. Gostaria de, aqui, agradecer a disponibilidade e o tempo do amigo Andres Bicocca.

1 – Quando você se interessou e começou a se dedicar à arte do bonsai?

O bonsai começou a me interessar desde pequeno aos 7 anos, mas foi mais velho quando, de verdade, me envolvi em cheio no tema, sempre como autoditada, nunca tendo professor que me dissesse como fazer as coisas. Sempre me chamou a atenção o trabalho com YAMADORIS. Para mim estas plantas inspiram respeito, possuem características que são essenciais no momento de criar um bonsai.

No início começou como uma distração, e depois de 3 anos comecei a ver como uma possibilidade de trabalho.  Comecei a planejar como poderia fazer para que este futuro empreendimento me desse frutos. Hoje em dia me dedico à venda de yamadoris, dar cursos na minha casa e em oficinas no exterior e no interior do país. Eu vivo em Mendoza, a 1.200km da capital de Argentina, onde está concentrado o maior número de bonsaistas do país. Em Mendoza não tem muitos bonsaistas. Com os cursos que dou, eu mesmo fui criando meu grupo de amigos para poder dividir esta arte.

2 – Quais espécies você mais gosta de trabalhar?

Gosto muito das Olivas, já que é a espécie de maior abundância na zona que vivo e a que melhor se adapta ao clima da minha terra.

3- Como está o crescimento e a busca pelo bonsai na Argentina?

A Argentina tem de tudo para conseguir coisas boas, só falta que as pessoas se organizem e mudem a forma de pensar, criar uma nova escola, com novas idéias. Pelo menos para mim é assim. Acho que aí está a chave.

4 – Dos seus trabalhos, qual você destaca com um carinho especial? Me fale um pouco sobre ele.

Esta pergunta é complicada . Cada trabalho tem uma história e algo em particular que faça ser especial. É difícil escolher um. Quando se trabalha com yamadori, a história da árvore começa muito antes da colheita. Algumas das plantas que retirei em campos privados já vêm com uma história pela qual me contam os proprietários que me autorizam a tirar a planta.

Por exemplo, a história do “uma oliva”, que se encontrava em um campo que colocaram fogo para desmatar, com mais de 200 olivas e apenas uma sobreviveu, uma planta com mais de 100 anos de vida. O dono me autorizou a pegá-la. A árvore estava metade queimada e metade viva. Por sorte agora é parte da minha coleção privada, e com certeza viverá muitos anos mais.

5 – Você gosta mais de algum estilo de bonsai em particular? Qual?

Não sigo nenhum padrão nem estilo para fazer meus bonsais. As regras ou estilo para mim limitam o momento de se expressar.

6 – O que a arte do bonsai agregou na sua vida?

O bonsai me deu e me dá muita coisa hoje em dia. Me deu a possibilidade de sobreviver fazendo o que eu gosto, em um país que custa muito conseguir. Também mudou minha forma de pensar e de ver a vida. Me dá novas amizades e muitas outras coisas mais.

7 – Você acha que um bonsai deve seguir uma ordem rígida de técnicas e estética, ou deve seguir uma forma mais livre e artística?

Um bonsai não tem que seguir nada, muito menos regras ou limitações. Só tem que ser um conjunto de emoções expressadas pelo autor e transmitidas pela árvore.

8 – Que bonsaísta (um ou mais) chama a sua atenção, hoje no cenário mundial?

Ninguém supera o mestre Mashaiko Kimura, o percursor do pensamento livre, no momento de criar uma obra de arte, quebrando regras e abrindo portas à imaginação do espectador.

9- Hoje qual o perfil de pessoas que buscam aprender o bonsai na Argentina?

Não sei no resto do pais (Argentina), mas em Mendoza as pessoas que procuram aprender bonsai são basicamente homens e, em geral, jovens.

10- O que você acha que as pessoas podem encontrar na prática do bonsai?

O bonsai oferece muitas coisas que podem servir para o equilíbrio da vida de qualquer pessoa. O contato com a natureza é um claro exemplo de algo positivo, esperança, conquistas, responsabilidade, confiança e mil coisas mais!

11- Qual o erro mais frequente nas pessoas que começam a estudar a arte do bonsai?

Pensar que com um mês de curso já sabem tudos e já são professores.

12- Que conselho você pode dar para as pessoas que estão começando nesta arte?

Para começar, perguntar onde querem chegar.  Aprender a colocar uma planta em um vaso e utilizá-la como decoração, ou se dedicar e ser um artista. Colocar uma planta e um vaso não é difícil, mas chegar a ter um selo uma marca própria em seus trabalhos e ser um artista de bonsai é outra coisa.

13- Diga uma frase, um pensamento que sintetiza nossa arte.

Temos que abrir a mente para novas formas, novas sensações visuais, expressar novas emoções, sem fronteiras, regras ou limites. Criar e tratar de aprender mais.

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