Desde que comecei a me dedicar à arte do bonsai em 1990, a Eugenia sprengelli sempre foi uma das espécies que eu sempre encontrei nas florálias como opção de trabalho. É uma planta da família das mirtáceas, e algumas de suas espécies recebem o nome de araça no Brasil. Este grupo está distribuido pelas zonas tropicais de todo o mundo, sendo mais diversificado nas Américas. Alguns autores classificam as espécies do género Syzygium (por exemplo, o cravinho) como Eugenia.

Eugenia sprengelli em viveiro, já modelada para paisagismo.
Quando procuramos em viveiros e florálias a espécie para trabalho com bonsai, devemos procurar uma planta sem forma tão definida. As da foto acima já foram modelas para uso em paisagismo . Se você quiser fazer um bonsai estilo Hokidashi (vassoura), tudo bem , não vai demorar para deixar a forma mais natural e com copas mais definidas, cerca de 2 anos. Mas para outros estilos o melhor é encontrar uma planta com mais patamares de copa, com galhos em diversas posições e alturas.
Modelando uma Eugenia sprengelli :
Nas fotos a seguir vou mostrar a modelagem e poda de alguns dos meus trabalhos com esta espécie.
A Eugenia abaixo foi comprada em março de 2010. Quando ela estava no próprio vaso de plástico do viveiro fiz a primeira limpeza retirando todos os galhos secos e deixando a copa menos densa. É fundamental que penetre sol nos galhos desta espécie pois ela brota no seu interior em qualquer idade da sua vida. Isso é muito bom pois permite criar novas copas, e substituir alguma perda importante que aconteça ao longo dos anos. Em Maio eu mudei a planta para um vaso de pré bonsai, cortando 60% das raízes capilares e as grandes raízes de sustentação.

Eugenia sprengelli - maio de 2010

Eugenia sprengelli - FRENTE em setembro de 2010
Nas fotos acima não retirei nenhuma folhagem. A aramação dos galhos secundários foi preenchendo os espaços e criando os patamares das copas. A beleza do trabalho com está espécie é poder observar a estrutura interna dos galhos. Eu gosto de imaginar um Flamboyant gigante, isolado no campo, quando estou modelando. Existe uma árvore no aterro do Flamengo na pista em direção ao aeroporto que deve ter uma copa de 100 metros quadrados.

Flamboyant
No transplante para o vaso de pré bonsai eu uso um substrato bem leve e drenante:
1- 60% de areia de rio (usada em filtro de piscina) ou caco de tijolo com 2mm.
2- 30% de terra negra sem adubo orgânico nenhum. Nunca usar humus de minhoca.
3- 10% de subtrato floreira, usado em hortaliças.
4- Três colheres de sopa de osmocote misturado no substrato. Osmocote é um adubo de liberação controlada.

Eugenia sprenguelli com todos os galhos tencionados e aramados.

Estrutura de arame para tensionamento dos galhos.
Para estruturar um estilo Hokidashi (vassoura) eu preparo uma estrutura de arame que me permite abaixar qualquer galho em todas as direções ( 360˚). Eu passo por baixo do vaso dois arames de cobre com argolas fechadas em suas pontas. A estrutura é fixa por outro arame cruzando toda parte de cima, unindo os arames e criando os outros pontos de amarração.

Os arames serão dobrados em direção à borda.

Vaso já com os arames preparados.

Detalhe da estrutura de arame para tensionamento dos galhos.
Para abaixar e tencionar os galhos eu uso fios de naylon ou encerados especiais. Este fios encerados são encotrados em casas de esporte e pesca, e tem uma grande durabilidade e resistência. São usados na confecção de varas de pesca para prender os anéis guia. Resistentes á água e ao sol, alguns usados por mim já ficaram um ano sem arrebentar. Eles aguentam tencionar galhos bem grandes, e se for necessário é só colocar duplo ou até triplo.
Abaixo os fios que eu uso:

Fios usados para tencionar galhos na modelagem.
Todos os fios abaixo duram de 6 meses à um tencionando galhos ao ar livre.
1- Araly Ocean fio de 0,35mm que suporta 20 libras. Ele não aparece nem em fotos, é excelente pois é muito forte e resistente. O naylon tem a vantagem de não penetrar para dentro dos galhos. É escorregadio para finalizar as amarrações, e é preciso saber alguns nós especiais.
2- Encerado para costura em couro. Tem a vantagem de ser muito fácil de amarrar e dar nós firmes. Ele não escorrega e é muito resistente. Aguenta cerca de 30 kilos. Você encontra nas cores verde, marrom, preto e cinza.
3- Linha usada para finalizar os anéis em varas de pesca. É impressionante a durabilidade ao ar livre. Pode molhar, pegar sol que não arrebenta. Encontrada em muitas cores, Eu uso marrom e preta.
4- Fios de cobre bem finos. É preciso mais atenção pois não deve ser colocado em contato direto com o galho. Para não cortar ou deformar os galhos, eu coloco fio de luz, soro ou borracha para protegendo a amarração.
Aramação:
O tencionamento dos galhos não substitui a aramacão. Somente a aramação dá sinuosidade ao galho. Para abaixar os galhos e diminuir a altura o tencionamento é uma técnica excelente, mas depois de abaixar os galhos grandes eu faço a aramação dos galhos secundários e terciários da planta.
Muitas vezes eu aramo o galho, fazendo uma curvatura e depois faço o tencionamento do mesmo.

Primeiro galho de baixo muito alto.

Eugenia sprengelli já com galho tencionado. Frente

Galho já tencionado, para isolar a copa. O fio está preso na própria raiz.

Eugenia sprengelli com as copas bem definidas. Frente

Eugenia sprengelli com as copas bem definidas. Costas

Eugenia sprengelli. Frente

Eugenia sprengelli. Costas

Eugenia sprengelli. Frente

Eugenia sprengelli. Costas

Penjing com Eugenia sprengelli. Frente

Penjing com Eugenia sprengelli. Costas

Penjing com Eugenia sprengelli. Lateral

Eugenia sprenguelli - 35cm de altura - Frente

Eugenia sprenguelli - 35cm de altura - Costas
Vou complementar esta matéria com mais fotos detalhadas sobre a aramação.