Trago aqui uma entrevista com os trabalhos de um artista que acompanhava e admirava de longe e que tive o privilégio de conhecer pessoalmente em um evento do grupo União Bonsai o ano passado. Paulo Henrique é um bonsaista com uma visão criativa e técnicas muito apuradas, isso é fruto de muito estudo, dedicação e amor pela arte. Fico muito feliz de poder ter uma entrevista com ele aqui no blog e principalmente ter estreitado e aumentado nossa amizade. Obrigado querido pela disponibilidade da entrevista.
1 – Paulo Henrique quando você se interessou e começou a se dedicar a arte do bonsai?
O bonsai apareceu na minha vida em 1992 quando vi uma matéria bem pequena sobre a arte, sendo filho de fazendeiro e neto de uma artista botânica a paixão foi imediata. Nessa pequena matéria tinha informações de alguns artistas como Carlos Tramujas, nesta busca pela arte encontrei perto da casa de um grande amigo em um bairro chamado brotas em Salvador uma floricultura que tinha bonsai, mas a proprietária nunca estava para me receber, era frustrante pois, a sede de um garoto para aprender era muito grande, aos 15 anos de idade, recebi de presente uma revista do Marcelo Miller que foi o ponta pé para começar a todo vapor, pesquisas na biblioteca central de Salvador eram constantes, sempre que podia fazia coletas na fazenda do meu pai, hoje rimos muito com isso, sempre que pedia uma muda de acerola ele pensava que era as mudinhas do viveiro e não as árvores adultas que estavam no pomar. Entre erros e acertos anotava tudo que fazia e desenhava do meu modo o que poderia fazer, os anos foram passando e em 2003 quando fui embora pro Rio a trabalho, foi a grande oportunidade de visitar o mestre Hidaka, logo depois em 2006 comecei a estudar com ele, em 2008 conheci o mestre Claudio Ratto que logo me apresentou o mestre Roberto Gerpe que tive a oportunidade de estudar, os anos foram passando fui participando de workshops e vi a necessidade cupidinoso de desenvolver de modo mais elevado o conceito artístico. Em 2011 conheci o mestre Nacho Marin em um workshop em Ribeirão Preto do amigo Mário Leal, no mesmo ano me mudei para Recife, sem hesitar procurei em Igarassu o Luiz Galvão e em João Pessoa o mestre Sergivaldo Costa que conheci em São Paulo em um worshop no Ibirapuera, foi mais uma oportunidade de aprender a arte, em 2014 comecei a estudar na Nacho Marin Bonsai School, fazendo parte da turma pioneira e chegando ao nível artístico que tanto alvejava.
2 – Quais espécies você mais gosta de trabalhar?
Gostos de todas as arvores e a cada dia descubro novas espécies nativas maravilhosas para trabalhar, porém a Calliandra spinosa, calliandra depauperata, pinheiro negro e pithecolobium tortum são os meus preferidos.
Na foto projeto e estilização criado no evento da União Bonsai realizadona Florália em Niterói.
3 – Que espécie você gostaria de trabalhar na sua região, mas as circunstancias de clima e adaptação não permitem?
Quando morava na Bahia deseja muito ter coníferas, mas hoje morando em São Jose dos Campos mesmo o clima sendo favorável para diversas espécies gostaria muito de ter em minha coleção um Prumus mume de yamadori centenária com toda identidade e história.
Prumus mume
4 – Dos seus trabalhos qual você destaca com carinho especial. Me fale um pouco sobre ele.
Entre os trabalhos se destacam duas árvores, uma calliandra spinosa que foi a primeira que coletei na minha vida, a euforia de estar no seu habitat e ver de perto a riqueza da caatinga foi sensacional e a outra o Chloroleucon tortum que coletei pela primeira vez com o mestre Roberto Gerpe, fora a oportunidade de estar na restinga fazendo yamadori estava ao lado de um grande artista que só via em revistas de bonsai aquilo pra mim era um sonho de um pequeno garoto sendo realizado. Essas duas árvores fazem parte da minha coleção.
5 – Você segue alguma escola ou estilo nas suas criações?
Sigo o conceito artístico da Nacho Marin Bonsai School escola que me formei.
6- Você gosta mais de um estilo de bonsai em particular? Qual ?
Gosto dos estilos que sejam mais dramáticos que fujam do óbvio que transmita um caráter artístico impactante ao observador, muito dessa linha tem dois ou mais estilos em uma só arvore ou nem um estilo definido, nomeado os estilos estão o Fukinagashi, bujing e kengai.
7 – O que a arte do Bonsai agregou na sua vida?
Como sou um apaixonado por natureza e a arte eleva a capacidade humana, a arte bonsai elevou-me numa qualidade de vida trazendo-me uma riqueza mental e espiritual.
8 – Você acha que um Bonsai deve seguir uma ordem rígida de técnicas e estética, ou deve seguir uma forma mais livre e artística?
Deve-se entender as técnicas e saber aplica-las, porém, não engessar em regras é fundamental entende-las, mas a arte é livre e isso é imutável, tudo se resume em harmonia. Eu tenho um conceito que adotei do estupendo filósofo Aristóteles que dizia:
“entender que o belo não pode ser desligado do homem, já que ele está em nós, é uma fabricação humana. As artes podem imitar a natureza, mas também podem abordar o impossível, o irracional e o inverossímil. Além disso, elas também podem ter uma utilidade prática completar o que falta na natureza. O que vai garantir beleza a uma obra, é a proporção, a simetria, a ordem, a justa medida.”
9 – Que bonsaista (um ou mais) chama a sua atenção, hoje no cenário mundial?
Nacho Marin
Min Hsuan Lo
Masahiro Kimura
Robert Steven
10 – Hoje é mais fácil começar a se dedicar a criação de bonsais? Quais eram as maiores dificuldades no inicio?
Sim, a tecnologia ajuda muito no estudo da arte, a internet aproxima você da literatura e de grandes bonsaístas.
No início não tinha nem tecnologia e nem pessoas que pudessem compartilhar o conhecimento da arte, como morava em uma ilha, o jeito era pegar um ônibus até Salvador ir até a biblioteca central e estudar pelo menos sobre a fisiologia de cada espécie que estivesse á disposição para fazer bonsai, entre erros e acertos anotava tudo em um caderno, vasos e ferramentas tudo era muito improvisado, minha única vantagem era que tinha bons materiais, pois coletava no sítio do meu pai ou de quintais de amigos que queriam desfazer de alguma espécie, aproveitava essa oportunidade, coletava normalmente frutíferas.
Veja o passo a passo deste lindo Fukinagashi (varrido pelo vento) na galeria no final da entrevista.
Caliandra spinosa
11 – Qual a sua percepção hoje da arte bonsai no Brasil? Você acha que teve um crescimento? Há maior projeção dos nossos artistas no cenário mundial?
Temos grandes bonsaistas no Brasil e cada artista com a sua vertente de criação artística. O Brasil cresceu muito de vinte anos pra cá, temos grandes artistas e estamos na terceira geração de bonsaístas. O mundo já observa o Brasil como um país de grande revelação de artistas, percebo que em poucos anos entraremos em um nível técnico muito satisfatório há nível mundial.
Pithecolobium thortum
12 – Que conselhos você poderia dar para quem esta começando a se dedicar a arte do Bonsai?
Aconselho que leia bastante, estude em uma escola, reserve um tempo semanal para treinar pois, praticando chegará a excelência da arte.
13 – Quais atributos o bonsaista deve ter para conseguir um bom resultado nos seus trabalhos?
Além de dedicação, disciplina e senso artístico ele precisa investir em bons materiais para obter resultados satisfatórios.
14 – Quais os benefícios físicos e mentais que podemos encontrar se dedicando a arte do Bonsai?
A arte trará um estado de espirito muito evolutivo, aprenderá a ter paciência que tudo tem seu momento, aprenderá a ser criterioso nas observações, e sem dúvida terá ética e disciplina na sua vida.
Primeira Caliandra spinosa coletada por Paulo Henrique
15 – Diga uma frase, um pensamento, que você ache que sintetiza nossa arte?
“Como um neófito iniciará a sua vida na arte, mas se tiver paciência e perseverança será tão forte como uma árvore adulta, mas se errar e precisar reiterar que faça, pois sempre no final a arte lhe trará bons frutos.”
Caliandra Espinosa 1
Caliandra Espinosa 2
Pithecolobium Thortum